Nudez Ritual
“E em sinal de
que são verdadeiramente livres, apresentar-se-ão nus em seus ritos”
Esta é uma pequena parte da Carga da
Deusa, um dos textos sagrados e tradicionais da Arte utilizado por muitos
Wiccanianos que expressa a nudez como uma parte importante dos rituais. Um
ponto muito controvertido entre a comunidade Pagã é se deve-se trabalhar magicamente
vestido de céu, com as vestes da Lua como também é chamada a nudez ritual, ou
se devemos trabalhar vestidos com robes, mantos ou túnicas. Existem muitas
Tradições que trabalham vestidas de céu, enquanto outras preferem as vestes
cerimoniais para realizar seus ritos. Na realidade é muito improvável que a
nudez ritual tenha sido uma regra entre as Bruxas da Antiga Europa, visto que o
clima daquele continente é frio, principalmente nos períodos de inverno. Muitos
historiadores e estudiosos afirmam que a crença de que as praticantes da Antiga
Religião faziam seus rituais nuas é mais uma das inúmeras deturpações
propagadas pela Inquisição. Outros afirmam que a nudez ritual foi incorporada à
Antiga Religião por Gardner, numa tentativa de trazer para a Religião
Wiccaniana princípios do naturismo, do qual ele particularmente era
simpatizante e praticante. Em meados dos anos 50 e60, muitas Bruxas trabalhavam
vestidas de céu. Com o surgimento de outras Tradições, o uso de vestes
cerimoniais se tornou comum na prática Wiccaniana e o retorno à nudez ritual se
deu por volta dos anos 70 e 80 através das Bruxas ligadas ao movimento
feminista. Muitos Bruxos alegam razões mágicas para a nudez ritual, afirmando
que qualquer coisa que for usada sobre o corpo irá interferir na energia criada
e projetada a partir dele. Como na Wicca o corpo humano é considerado um dos
principais geradores de energia, esta explicação é bem razoável para o
entendimento do ato de vestir-se de céu durante as práticas mágicas. Não só a
roupa interfere nos ritos mas também jóias, perfumes e qualquer ornamento
artificial usado sobre o corpo. Outros Bruxos no entanto alegam que uma simples
roupa ou outros artefatos não são capaz de impedir a criação e veiculação da
energia criada pelos nossos próprios corpos e aquelas trazidas para dentro do
nosso Círculo através da invocação aos Deuses e Elementos, já que esta energia
pode atravessar qualquer barreira humana e não humana. A nudez ritual também
exerce um fator psicológico, já que isto impõe a necessidade de nos aceitarmos
como somos ou mudar a nossa condição se não
estamos felizes com ela. Nus,
estamos sem máscaras e para a magia o autoconhecimento e aceitação do que
somos, sem ilusões, é essencial. Nossas roupas e estilo são um reflexo do que
os outros querem que sejamos. A nudez nos traz a liberdade do pensamento
convencional e mundano trazidos pelo uso de nossas roupas, que expressa
exatamente o que os outros esperam de nós. A nudez ritual assegura que os ricos
não possuirão roupas caras, nem jóias, para demonstrarem sua classe social
dentro de um Círculo. Se por um lado a nudez ritual pode contribuir muito para
que todos se apresentem da mesma forma aos Deuses, além de auxiliar no processo
de desprogramação da vergonha e pecados que a criação através dos parâmetros de
valores judaico-cristãos nos incutiu, também pode atrair para dentro de um
Coven todo tipo de malucos, maníacos sexuais e tarados. Mesmo com toda esta
controvérsia a nudez ritual ainda é utilizada por muitos praticantes da Arte e
considerada uma regra no caso de Tradições como a Gardneriana. A maioria dos
grupos, no entanto, usa robes, mantos e túnicas para realizar os seus rituais
por diversas razões. O uso de vestes cerimoniais favorece o senso estético e
confere uma beleza adicional para os ritos. Além disso, o ato de trocar a roupa
do dia a dia por outras reservadas exclusivamente para os rituais também
desperta o nosso subconsciente para o Divino. É como se fosse um recado enviado
diretamente para o nosso Eu Mágico dizendo “agora
é a hora da Magia”.
A maioria dos grupos opta pelo
tradicional preto ou por uma outra cor qualquer que reflita a personalidade do
Coven. Existem muitos grupos que preferem o verde em vez do preto, já que esta
é uma cor não só relacionada à Terra e sagrada para todos os Deuses, mas também
intimamente ligada aos Antigos Deuses Celtas. Muitos Covens utilizam túnicas
azuis, já que em várias culturas matrifocais esta cor sempre foi sagrada para a
Deusa. Outros, ainda, optam pelo vermelho ou branco, cores relacionadas
respectivamente a face Mãe e Donzela da Deusa. Muitos grupos utilizam as cores
das vestes cerimoniais para refletir os diferentes níveis dos membros do Coven
usando preto para a Sacerdotisa e Sacerdote, branco para os Iniciados e
Dedicantes e as cores dos elementos verde, amarelo, vermelho e azul para os
Senhores dos Quadrantes, por exemplo. Diferentes grupos podem utilizar
diferentes cores para estas correlações com a finalidade de refletir a natureza
daquele Coven. Mesmo que algumas formas sejam consideradas tradicionais, nada é
estabelecido rigidamente e cada grupo pode alterar a seu próprio gosto tais
correlações. O uso de tecidos naturais, como algodão, para a confecção de
vestes cerimoniais, é sempre observado. Os tecidos sintéticos podem interferir
substancialmente nos rituais e podem pegar fogo por acidente facilmente quando
expostos sobre a chama de uma vela ou caldeirão flamejante.
A nudez ritual ou o uso de vestes
cerimoniais serve apenas para influenciar o subconsciente de forma que ele
perceba a diferença entre o mundo mundano e omágico. Sendo assim, antes de
decidir se praticará seus rituais vestido de céu ou usando robes, pense e
repense, analisando os prós e contras desta escolha e tenha em mente que esta
decisão é importante e diz respeito somente à você. Jamais seja influenciado
por opiniões alheias ou pelo que é mais ou menos aceito dentro dos diferentes
grupos. Faça como sentir correto e como acha ser melhor!
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