A Deusa no reino da morte
(mito tradicional da Arte)
Nos tempos antigos, nosso Senhor, o Cornudo, era (e ainda é) o Consolador,
o Confortador. Mas os homens o conheciam como o terrível Senhor das Sombras,
solitário, inflexível e justo. Mas nossa Senhora, a Deusa resolveria todos os
mistérios, até mesmo o mistério da morte; e assim ela viajou ao Mundo
Subterrâneo. O Guardião dos Portais a desafiou...
"...Tira tuas vestes, põe de lado tuas
jóias, pois nada tu podes trazer contigo o interior desta nossa terra."
Assim ela se despojou de suas vestes e de suas jóias, e foi amarrada, como
todos od vivos que buscam ingressar nos domínios da Morte, a Poderosa, têm que
ser.
Tal era a beleza dela, que a própria Morte se ajoelhou e depositou sua
espada e coroa aos seus pés...
... e beijou seus pés, dizendo: "Abençoados sejam teus pés, que te
trouxeram por estes caminhos. Permanece comigo, mas deixa que eu ponha minhas
mãos frias sobre o teu coração.
" E ela respondeu: "Eu não te amo. Por que fazes todas as coisas que amo e nas quais me comprazo fenecerem e morrerem?"
"Senhora" – respondeu a Morte – "trata-se da idade e da
fatalidade, contra as quais sou impotente. A idade, o envelhecimento, leva
todas as coisas a definharem; mas, quando os homens morrem ao desfecho de seu
tempo, concedo-lhes repouso, paz e força para que possam retornar. Mas tu, tua
és linda. Não retornes, permanece comigo." Mas ela respondeu: "Eu não
te amo.
" E então disse a Morte: "Se não recebem minhas mãos sobre seu
coração, tens que te curvar ao açoite da Morte." "É a fatalidade,
melhor assim..." – ela disse e se ajoelhou. E a Morte a açoitou
brandamente.
E ela bradou: "Eu conheço as aflições do amor."
E a Morte se ergueu e disse: "Sejas abençoada." E lhe deu o beijo
quíntuplo, dizendo: "Assim apenas pode atingir a alegria e o conhecimento.
" Então a Morte desamarra os seus pulsos, depositando o cordel no
chão.
E ele a ela ensina todos os seus mistérios e lhe dá o colar que é o círculo
do renascimento.
A Deusa, então, toma a coroa e a recoloca na cabeça do Senhor do Mundo Subterrâneo.
A Deusa, então, toma a coroa e a recoloca na cabeça do Senhor do Mundo Subterrâneo.
E ela ensina a ele o mistério da taça sagrada, que é o caldeirão do
renascimento.
A Deusa toma o cálice em ambas as mãos, eles se entreolham, e ele coloca
ambas as mãos nas dela.
Eles amaram e se tornaram um, pois há três grandes mistérios na vida do
homem, e a magia os controla todos. Para realizar o amor, tendes que retornar
novamente no mesmo tempo e no mesmo lugar daqueles que são os amados; e tendes
que encontrá-los, conhecê-los, lembrá-los e amarrá-los de novo.
O Senhor do Mundo Subterrâneo solta as mãos da Deusa e esta recoloca o
cálice no seu lugar. Ele toma o açoite em sua mão esquerda e a espada na sua
mão direita e fica na posição do Deus, antebraços cruzados sobre o peito,
espada e açoite apontados para cima. Ela fica na posição da Deusa, pernas
escarranchadas e braços estendidos formando o pentagrama.
Mas para renascer tendes que morrer e ser preparado para um novo corpo. E
para morrer tendes que nascer, e sem amor não podes nascer. E nossa Deusa
sempre se inclina para o amor, e o júbilo, e a ventura; e ela protege e
acaricia suas crianças ocultas na vida, e na morte ministra o caminho da
comunhão com ela; e mesmo neste mundo ela lhes ensina o mistério do Círculo
Mágico, que é disposto entre os mundos dos homens e dos Deuses.
Mito tradicional da Arte.
(Fonte:”Oito Sabás para Bruxas” de Janet e Stewart
Farrar, Ed.Anúbis)
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