Os
simbolismos ocultos do Ovo
Autoria de Mirella
Faur
Na cosmologia
da Deusa o ovo é um símbolo universal da criação do mundo pela Grande Mãe,
manifestada como uma Deusa Pássaro. Os antigos egípcios consideravam o Sol como
o ovo dourado posto pela deusa Hathor, na sua manifestação como A Gansa do
Nilo. Nos rituais egípcios o próprio universo era visto como o ovo cósmico
criado no início dos tempos.
Os mitos gregos
associavam diversas deusas com o ovo cósmico, por exemplo Leto, que chocou um
ovo misterioso do qual nasceram Apollo, representando o Sol, e Ártemis
simbolizando a Lua. O historiador Hesíodo relata como a Mãe da Noite (o vazio
ou abismo cósmico, o espaço infinito), que antecedeu à criação e gerou todos os
deuses, criou o Ovo do Mundo e de suas metades surgiram o céu e a Terra. Em
outra versão, deste ovo (identificado com a Lua) surgiu Eros (o amor), que
colocou o universo em movimento e contribuiu para a proliferação da vida..
Para os hindus
o ovo cósmico é posto por um enorme pássaro dourado, enquanto no mito de
criação finlandês, a deusa Ilmatar, a Criadora que flutuava sobre as águas
primordiais, abrigou sobre seu ventre um ovo posto por um grande pássaro e que,
ao quebrar, formou o céu e a Terra.
Os ovos são
símbolos da Lua, da Terra, da criação, do nascimento e da renovação. A
iniciação nos Mistérios Femininos é vista como um renascimento, análogo ao ato
de sair da casca. O círculo, a elipse, o ovo, o ventre grávido são símbolos da
plenitude misteriosa da gestação e da criação. O centro de um círculo é um
espaço protegido e seguro, semelhante à escuridão do ventre e do ovo.
Inúmeras
estatuetas representam as deusas neolíticas associadas com a Lua ou o ovo. No
folclore de vários povos europeus existem crenças ligadas ao ovo, considerados
símbolos de fertilidade, humana ou animal. Até o século 17 na França, a noiva
devia quebrar um ovo na soleira da sua casa para assegurar sua fecundidade. Os
antigos eslavos e alemães untavam seus arados antes da Páscoa com uma mistura
de ovos, farinha, vinho e pão, para atrair assim abundância para as colheitas.
Na Inglaterra antiga, crianças percorriam as casas no Domingo de Ramos pedindo
ovos; recusar este pedido era um mau presságio para os moradores.
Usavam-se ovos
também nas oferendas para os mortos, colocados juntos deles no caixão ou sobre
os túmulos. Os judeus da Galícia consumiam ovos cozidos ao retornarem dos
enterros pra retirar as energias negativas. Na Noite de Walpurgis (30 de
abril), nas montanhas Harz da Alemanha, consideradas local de reunião das
bruxas, os casais enfeitados com guirlandas de flores dançavam ao redor de
árvores decoradas com folhagens, fitas e ovos tingidos de vermelho e amarelo.
Na Romênia,
Rússia e Grécia ovos cozidos ou esvaziados do seu conteúdo são até hoje
decorados com motivos tradicionais, dados de presente ou usados em competições
no domingo da Páscoa. Ganhava aquele que conseguia quebrar os ovos dos
concorrentes batendo de leve neles, mas sem rachar o seu. Os romanos destruíam
as cascas dos ovos que eles tinham comido para evitar que fossem feitos
feitiços com eles.
A presença de
ovos nos sonhos deu margem a variadas interpretações, os que apareciam inteiros
prenunciavam boa sorte, casamento, gravidez ou herança; se fossem quebrados
anunciavam brigas, perdas e separações. A divinação com ovos – chamada de
ovomancía - era praticada pelas mulheres européias nos Sabbats Samhain, Yule ou
Litha, deixando cair em um copo com água a clara e fazendo vaticínios pelas
formas criadas.
Resquícios do
mito da deusa celta Ostara, padroeira da fertilidade e renovação da Natureza
celebrada no Equinócio da primavera, permaneceram nas crenças populares e
persistem até os dias de hoje, apesar das pessoas desconhecerem sua origem. Os
símbolos de Ostara eram o ovo e a lebre, sem relação entre si, mas ambos
significadores de criação e proliferação. Com o passar do tempo, surgiram os
contos do Coelho da Páscoa e a sua inexplicável associação para os leigos com a
festa cristã e os ovos de chocolate.
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