Como
são os anjos?
Diác.
Joshua Sequeira, E.P.
Ao falar sobre os anjos, com muita facilidade
vem-nos à mente a clássica representação de um misterioso jovem de bela
aparência, trajando uma longa e alva túnica. Não podemos considerá-la uma
imagem errada, visto que nas próprias Escrituras eles são assim figurados, como
por exemplo, no episódio de Tobias.
Já em nossa época, as aparições de Fátima foram
precedidas de algumas intervenções angélicas. O Anjo da Paz apareceu três vezes
aos pastorinhos e foi assim descrito mais tarde pela Irmã Lúcia, uma das videntes:
"Começamos a ver (...) uma luz mais branca que a neve, com a forma de um
jovem transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios do
sol. À medida que se aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições: um jovem
dos seus 14 a 15 anos, de uma grande beleza. Estávamos surpreendidos e meio
absortos." A descrição da Irmã Lúcia pouco revela a respeito dos seres
angélicos, apenas aumenta o mistério que os cerca.
Mesmo na Sagrada Escritura, não há elementos
precisos sobre sua natureza e atributos; o que se conhece é deduzido de sua
atuação, nas missões a eles confiadas por Deus junto aos homens.
Quem são, afinal, os anjos? Que predicados possuem?
A resposta, nós a encontramos nos escritos de um dos autores que mais a fundo
tratou do assunto: São Tomás de Aquino, o Doutor Angélico. Com base em sua
doutrina, vejamos algumas das interessantes questões relativas aos anjos.
Os anjos são mais numerosos que os homens?
Ao criar, Deus teve em vista "a perfeição do
Universo como finalidade principal" (1), pois tinha intenção de espelhar o
supremo Bem, ou seja, Ele mesmo. Por isso, fez em maior número os seres mais
elevados. E os espíritos celestes, os quais superam em dom e qualidade qualquer
ser corporal, foram criados em tal quantidade que, perto deles, todas as
estrelas do firmamento não passam de um punhadinho de pedras preciosas.
Todos os homens - desde Adão até o último a nascer
no fim do mundo - são poucos em relação às miríades de puros espíritos que
espelham tão perfeitamente o Criador dos homens e dos anjos. É com grande
veracidade que Dionísio confessou humildemente: "Os exércitos
bem-aventurados dos espíritos celestes são numerosos, superando a medida
pequena e restrita de nossos números materiais" (2).
Os anjos são todos iguais?
Segundo o Doutor Angélico, as criaturas devem
representar a bondade de Deus. Mas nenhuma criatura - nem sequer Maria
Santíssima! - é capaz de representar suficientemente toda a bondade divina. Por
isso, Ele criou múltiplos e distintos seres. Assim, cada indivíduo representa
um aspecto diferente do Bem Supremo, e um suprirá aquilo que no outro não se
encontra..
Os seres criados - se postos em escala, de inferior
a superior - formam uma imensa cadeia, onde o conjunto de diversos graus, cada
qual mais requintado, dá uma noção mais completa e arquitetônica da Suma
Perfeição do que qualquer um deles individualmente (3).
Ademais, na medida em que as criaturas se aproximam
do Bem Supremo, as diferenças entre elas se multiplicam, para melhor espelhar a
riqueza infinita dos dons de Deus. Deste modo, a extrema variedade do mundo
angélico supera tanto a do mundo físico que este, comparativamente, parece
empalidecido, pobre e até monótono! Entre os anjos, não há indivíduos
semelhantes, agrupados em famílias ou raças, como ocorre no gênero humano.
Cada um difere do outro, como se fossem espécies
diversas (4).
São Tomás de Aquino, baseando-se nas Escrituras,
divide-os em três hierarquias e nove coros: "Isaías fala dos Serafins;
Ezequiel, dos Querubins; Paulo, dos Tronos, das Dominações, das Virtudes, das
Potestades, dos Principados; Judas fala dos Arcanjos, enquanto o nome dos Anjos
está em muitos lugares da Escritura" (5).
Enquanto São Dionísio explica a divisão da
hierarquia angélica em função de suas perfeições espirituais, São Gregório o
faz de acordo com seus ministérios exteriores: "Os Anjos são aqueles que
anunciam as coisas menos importantes; os Arcanjos, os que anunciam as mais
importantes; as Virtudes, por elas se realizam os milagres; as Potestades,
pelas quais se reprimem os maus poderes; os Principados, que presidem os
próprios espíritos bons" (6).
De que modo os anjos podem influenciar os homens?
Os anjos podem influenciar profundamente os homens,
embora o façam sempre discretamente, pois a humildade também é uma virtude
angélica.
Quantas vezes, uma boa inspiração tem origem num
anjo! Ou quando o pressentimento de algum perigo grave leva a pessoa a tomar
medidas e escapar de um acidente ou livrar-se de um grande dano, certamente foi
algum solícito anjo que zelou pelo bem de seu protegido.
Mas os anjos exercem um importante papel, sobretudo
no que diz respeito à fé, como nos ensina o Doutor Angélico: "Dionísio
prova que as revelações das coisas divinas chegam aos homens mediante os anjos.
Essas revelações são iluminações. Portanto, os homens são iluminados pelos
anjos" (7).
"Pela ordem da Divina Providência - continua
São Tomás - os inferiores se submetem às ações dos superiores. Assim como os
anjos inferiores são iluminados pelos superiores, assim os homens, inferiores
aos anjos, são por eles iluminados.
(...) Por outro lado, o intelecto humano, enquanto
inferior, é fortalecido pela ação do intelecto angélico" (8).
É verdade que tenho um anjo da guarda para me
proteger?
Ao tratar deste ponto, o Doutor Angélico cita o
comentário de São Jerônimo às palavras do Divino Mestre: "seus anjos [dos
pequeninos] no Céu contemplam sempre a face de meu Pai" (Mt 18, 10).
"Grande é a dignidade das almas - afirma São Jerônimo -, pois, ao nascer,
cada uma tem um anjo delegado à sua guarda" (9). Assim, cada homem recebe
um príncipe da corte celeste que nunca o abandona, por mais culposas ou
pavorosas que sejam as situações pelas quais passe. Tal como se reza na
conhecida oração ao anjo da guarda (Santo Anjo do Senhor) ele rege, guarda,
governa e ilumina o seu protegido.
O anjo ilumina o homem para incliná-lo ao bem ou
comunicar-lhe a vontade divina (10) e o protege contra os assaltos do demônio.
Sobretudo, o anjo continua sempre na presença de Deus, mesmo estando ao lado de
seu protegido, intercedendo continuamente por ele.
1) Suma Teológica I, q.50, a.3 resp.
2) De Caelesti Hierarchia, cap.14, in MIGNE, PG, 3, 321 A.
3) cf. I, q. 47, a. 1e 2.
4) cf. I, q. 50, a. 4.
5) I, q.,108, a.,5 s.c.
6) cf. I, q 108, a.,5 resp.
7) I, q. 111 a. 1 s.c.
8) I, q. 111, a.1 resp.
9) MIGNE, PL, 26, 130 B.
10) cf. I, q. 111, a. 1.
2) De Caelesti Hierarchia, cap.14, in MIGNE, PG, 3, 321 A.
3) cf. I, q. 47, a. 1e 2.
4) cf. I, q. 50, a. 4.
5) I, q.,108, a.,5 s.c.
6) cf. I, q 108, a.,5 resp.
7) I, q. 111 a. 1 s.c.
8) I, q. 111, a.1 resp.
9) MIGNE, PL, 26, 130 B.
10) cf. I, q. 111, a. 1.
(Revista Arautos do Evangelho, Set/2007,
n. 69, p. 22 e 23)
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