Demonologia
medieval
O período
medieval é considerado como "os séculos das trevas" em função de uma
série de fatores ligada, principalmente, a uma estagnação do pensamento
científico. Muitos autores estabelecem uma relação entre essa estagnação e a
Igreja Católica, pela sua influência conquistada ao final do Império Romano e
que perdurou por vários séculos, sobretudo na Europa. Os acusadores da Igreja
citam os sentimentos pouco religiosos, a intolerância e o obscurantismo
intelectual disfarçados nos preceitos extraídos de dogmas religiosos.
A
influência da Igreja, aliada a uma série de outros fatores (guerras, pestes,
etc.) fizeram da Idade Média um período bastante particular na história humana.
A magia passou a ser proibida em quaisquer de suas formas; a Astrologia também
não era admitida, pois defendia determinados princípios astrais não diretamente
vinculados a Deus. Todo e qualquer estudo, raciocínio ou conclusão deveria
estar em consonância com os dogmas vigentes. E tudo que não estivesse dentro
daquela realidade era, naturalmente, apontado como contrário a Deus e,
conseqüentemente, oriundo de demônios.
Talvez por
extrema insatisfação com o contexto cultural, talvez como forma de liberação de
tensões reprimidas, as práticas chamadas "demoníacas" difundiram-se
por toda a Europa medieval. Os adoradores do Diabo reuniam-se, secretamente, em
assembléias denominadas "Pequeno Sabat", que ocorriam semanalmente,
aos sábados. De cinco em cinco anos, acontecia o Grande Sabat, uma festa maior
e mais variada. Nessas assembléias praticava-se uma espécie de anti-missa: o
Diabo era representado por um animal (bode, sapo, etc.) e havia rituais com
defumações com ervas e manuseio de excrementos (fezes, urina e sangue
menstrual). Muitas dessas "missas negras" traziam no lugar do altar
uma mulher nua, com as pernas abertas, expondo à "adoração" seus
órgãos sexuais. Percebe-se, claramente, em muitos desses rituais o fator
"sexo" associado. Talvez fosse uma forma de se lidar com a
"repressão" sexual imposta pela Igreja, que defendia ser o sexo
instrumento da procriação, ou seja, desprezando o aspecto "prazer"
que o sexo poderia proporcionar.
Durante os
rituais "negros" havia a distribuição de prêmios àqueles que tivessem
sido suficientemente "maus"e, muitas vezes, eram castigados os
membros de conduta contrária. No decorrer das reuniões ia ocorrendo uma grande
"histeria"coletiva que culminava com uma grande orgia onde todos
participavam. Durantes essas crises histérico-epiléticas muitas vezes ocorriam
predições.
Em
resposta à difusão desses rituais, a Igreja reagiu violentamente. Instituiu os
tribunais da Inquisição para julgar os indivíduos acusados de adoração aos
demônios ou de praticarem a bruxaria. Esses tribunais acusavam e julgavam
pessoas baseados em provas consideradas, no mínimo, suspeitas. Por exemplo, dentre
os sintomas médicos capazes de identificar "seguramente" um
endemoniado encontramos: quando a doença não era conhecida ou descoberta;
doenças inconstantes e incontroláveis; cólicas e sensações de frio ou calor
pelo corpo; ver fantasmas; ter ataques epiléticos, perturbações ou sustos sem
causas aparentes. Bastava ter um ou mais destes sintomas, entre outros, para
que o "pobre diabo" não escapasse da acusação de estar mantendo
vínculos com demônios.
As
acusações legais capazesde inculpar alguém por heresia ou magia eram ,
aproximadamente, quinze. Bastava uma denúncia anônima ou uma simples suspeita
para que o denunciado sofresse maus tratos nas mãos dos inquisitores, não raro
sendo morto, comumente queimado. Muitos autores observam que a Inquisição, pelas
características de sua atividade e pelo seu "modus operandi" era um
excelente instrumento de combate aos opositores do Catolicismo.
Eis as
quinze acusações:
01.
Renegar Deus;
02.
Basfemá-lo;
03. Adorar
ao Diabo;
04.
Consagrar filhos aos demônios;
05.
Sacrificar os filhos;
06.
Consagrar os recém-nascidos aos demônios;
07. Fazer
prosélitos a Satanás;
08. Jurar
em nome do Diabo;
09. Não
respeitar alguma Lei ou cometer incesto;
10. Matar,
coser e comer seres humanos;
11.
Alimentar-se de carne humana, mesmo não sendo o responsável pela morte;
12.
Envenenar e matar pessoas por meio de sortilégios;
13. Matar
o gado;
14. Causar
esterilidade;
15.
Escravizar-se ao Diabo.
O culto ao
Diabo parece ter alcançado proporções tão fantásticas que Jean Wier, em sua
obra DE PRESTIGIIS (1568), afirmava que o Império do Mal reunia "72
Príncipes e 7.405.926 demônios, divididos em 1.111 legiões e cada legião
possuía 6.666 soldados".
Mássimo
Inardi, em "História da Parapsicologia", relaciona os nomes dos
demônios mais conhecidos na Idade Média:
ABRASSO ou
ABRACAN: (daí se deriva a palavra ABRACADABRA) tinha às suas ordens 365 gênios,
um para cada dia do ano;
ADRAMELEK:
o grande chanceler do Inferno;
ANDRES: o
Grande Marquês infernal;
ALASTOR,
AGNAS e ALOCERO: Grãos-Duques;
ASMODEU:
grande jogador, protetor das casas de jogo ( atribuí-se a ele a tentação à
Eva);
ASTAROTH:
um dos mais conhecidos e poderosos;
BEHEMONT,
ISSACHAR e BALAAN: responsáveis pelos endemoniados de Loudun;
BEL:
demônio dos caldeus;
BEELZEBUTH:
um dos príncipes infernais. Alguns autores afirmam que é o supremo chefe dos
demônios;
BELIAL: o
mais corrupto dos demônios;
CARONTE:
do Inferno de Dante;
LEVIATÃ:
Grande Almirante infernal;
LÚCIFER:
Rei do Inferno;
MALPHAS:
Presidente da Corte infernal;
SANTANÁS:
personificação do mal.
MALLEUS
MALLEFICARUM
Um manual
publicado por dois padres dominicanos alemães, Heinrich Kramer e Jacobus
Sprenger, tornou-se famoso por orientar os inquisidores na caça às feiticeiras.
Escrito no final do século XV, o MALLEUS MALLEFICARUM ( Martelo da Bruxaria, em
latim) trazia uma pesquisa apurada a respeito dos métodos utilizados pelos
demônios para seduzirem os seres humanos. Capítulos como "Do meio de fazer
um pacto formal com o Diabo" ou "Os métodos para destruir e curar a
bruxaria" fizeram desse livro a literatura preferida dos Juízes da
Inquisição.
ÍNCUBOS E
SÚCUBOS
Além de
todos os "problemas" habituais causados pelos demônios, os mesmos
podiam, ainda, assumir as mais diversas formas para se relacionarem sexualmente
com os seres humanos. Podiam assumir a forma de parentes, namorados ou cônjuges
das vítimas, ou, simplesmente, de forma invisível, possuírem sexualmente a
vítima. Esses demônios eram chamados de Íncubos e Súcubos. Os Íncubos se
apossavam de mulheres e, os Súcubos, de homens.
Analisando
a literatura da época chega-se à conclusão que, muitas vezes, esses diabetes
foram bodes expiatórios para situações meio irregulares como mães solteiras,
moças desvirginadas, filhos ilegítimos, namoros proibidos, traições
inconfessáveis, etc. É o caso de um bispo que, ao ser acusado de violentar uma
freira, afirmou ser o efeito das "travessuras" de um íncubo que
assumira sua forma...
(amarrações, vinganças, maldições...)
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