Quem
eram os Druídas...
Os Druidas
Eles
formavam a classe de sacerdotes entre os celtas, povo originário da Europa
oriental que, no primeiro milénio a.C., se espalhou por quase todo o
continente, até a Grã-Bretanha. "Os druidas eram considerados
intermediários entre os homens e os deuses e actuavam também como juízes, magos
e professores", afirma Pedro Paulo Funari, professor de História e
Arqueologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
"Como
os celtas não deixaram obras escritas - apenas inscrições em objectos como
taças e moedas - o que sabemos sobre eles vem de relatos dos romanos, surpresos
com o fato de os druidas serem sacerdotes em tempo integral - pois em Roma essa
função era acumulada por políticos, generais e magistrados", diz o historiador.
A
principal fonte sobre os druidas é o próprio imperador Júlio César, que conta
que eles tinham o privilégio de não pagar impostos e nem servir ao exército.
Seus rituais incluíam sacrifícios humanos e, principalmente, o culto à
natureza, toda ela considerada encantada por espíritos das árvores, bosques,
lagos, fontes, cachoeiras e animais.
O druida,
na religião dos antigos povos celtas, especialmente os galos, era a pessoa que
exercia as funções de sacerdote, poeta, juiz e legislador.
Etimologicamente,
a palavra druida deriva do galo dru-(u)id, que tinha o sentido de 'dono da
ciência' ou 'muito sábio' entre os galos, povo pertencente ao tronco celta
situado principalmente nos territórios das actuais, França, Bélgica e
Luxemburgo a partir do ano 1000 a.C., aproximadamente.
O
historiador romano Plínio o Velho, entretanto, relacionou etimologicamente a
voz druida com o nome grego drãj 'carvalho', certamente pela importância que
nos cultos religiosos druídicos tinham esta e outras árvores.
Os druidas
desempenhavam várias funções, eram sacerdotes, bardos, poetas e magos sem
distinções como os historiadores gregos pensavam, inclusive Lucano.
O homem
sábio que em muitas ocasiões se ocupava das questões religiosas desempenhava
também o papel de conservar por tradição oral o património histórico, cultural
e religioso ancestral, além de compor poemas satíricos em determinadas festas e
celebrações.
Os druidas
mais famosos da história, presentes em todas as sociedades celtas, foram os
estabelecidos nas Galias e nas Ilhas Britânicas, onde eram os depositários de
toda a tradição oral dos povos celtas.
Sua crença
principal era a imortalidade do ser, visto que seus mortos continuavam vivendo
em outro mundo, identificado como subterrâneo, onde o morto acompanhava seus
deuses; os enterros celtas não eram diferentes. O corpo do morto era enterrado
com todo tipo de objectos quotidianos, pois seu uso continuaria para sempre.
Apesar de
sua elevada posição social, a estrutura social dos povos celtas fez com que
participassem de todos os trabalhos da comunidade, tanto nos agrícolas como nas
campanhas militares, embora sua principal ocupação era a educação dos jovens, a
arbitragem nos litígios ocorridos entre as diversas tribos e a celebração dos
diferentes ritos religiosos (especialmente os sacrifícios).
O
hermetismo destes ritos, assim como seu carácter oral, fazia com que a
capacidade mais admirada pelos druidas fosse sua memória, por isso seus
sucessores na tribo deviam se destacar desde jovens nesse sentido, além de
jurar honrar sempre aos deuses (o conhecimento era secreto), não obrar
imprudentemente e estar sempre disponíveis para os serviços que demandasse a
comunidade.
A vida
quotidiana de um druida estava apoiada na estrita subserviência a estas regras
e na observação da natureza, onde descobriram os usos medicinais; o respeito
pelos bosques como lugares sagrados era outra de suas ocupações, para o qual
contaram com o apoio da aristocracia militar das comunidades celtas.
São muito
escassos os escritos sobre antigos galos, a maioria dos textos foi escrita em
grego, embora alguns deles tenha relação directa com as actividades druídicas.
Segundo estudiosos, os druidas não tinham livros sagrados, pois transmitiam sua
doutrina e sua sabedoria de forma oral.
De acordo
com registros, em 1971 foi encontrado um texto em doze linhas de uma oração a
uma divindade desconhecida inscrita em uma prancha de chumbo na fonte de
Chamalières, perto de Clermont-Ferrand (França). Em 1983, encontrou-se na
aldeia do Veyssière (Aveyron, França), o chamado Chumbo do Larzak, de 57
linhas, inscrito uma mensagem para o outro mundo que devia levar até ali uma
druidesa morta.
Muito
importante também é o chamado Calendário de Coligny, encontrado no final do
século XIX, gravado em uma prancha de bronze de quase um metro e meio de
comprimento e 80 centímetros de largura, fonte da fé dos profundos
conhecimentos astronómicos dos druidas galos.
Até ao
momento, tudo o que conhecemos sobre os cultos e as actividades druídicas,
devemos aos historiadores gregos e, sobretudo, latinos, cuja visão sabemos que
às vezes estava muito deformada pela hostilidade entre o povo romano e o galo.
Por outro lado, têm-se muitos mais dados a respeito dos druidas e, em geral,
dos povos galos assentados na área continental que nas Ilhas Britânicas, já que
o contacto mantido pelos romanos com os galos foi muito mais contínuo e
intenso.
Uma das
mais importantes fontes históricas para o conhecimento das actividades
druídicas é o tratado historiográfico De Belo Gallico 'Da guerra das Galias',
de Júlio César, quem afirmou que os druidas constituíam uma espécie de casta de
iniciados que deviam receber uma formação esotérica, muito rigorosa e
prolongada, nas Ilhas Britânicas.
César
também assinala que os druidas se encarregavam de presidir todos os sacrifícios
públicos e privados, as actividades religiosas e, as que se estendiam as suas
funções aos âmbitos político e judicial, já que eram eles os encarregados de
impor sentenças e castigos judiciais.
Um druida
era, segundo César, um homem considerado sábio, conhecedor dos segredos da
astronomia, a geografia e da natureza, além dos religiosos, e que ostentava um
prestígio máximo dentro de sua comunidade, o que lhe permitia estar isento de
pagar tributos e de praticar o serviço militar.
Alguns dos
dados contribuídos por César sobre o conteúdo da religião druídica são
especialmente interessantes; por exemplo, quando afirma que "os druidas
ensinam a doutrina segundo a qual a alma não morre, mas sim depois da morte
passa de um a outro", em clara referência à doutrina da metempsicose ou
transmigração das almas.
O sistema
religioso galo druídico devia ser muito complexo e poderoso, já que o mesmo
Suetônio o chamou "religião druida", é de nossa sabedoria que alguns
de seus cultos exerceram grande fascinação e inclusive influíram e impregnaram
em alguns cultos romanos. Entre as funções do druida, tinha em especial
relevância à preparação e presidência de todos os sacrifícios.
O geógrafo
grego Estrabão, nascido na Ásia Menor, estudou em Roma, viajou por diversos
países e escreveu um tratado de Geografia em dezassete livros que chegou até
nós praticamente na íntegra; afirmava que os druidas faziam sacrifícios humanos
cujas vítimas eram homens consagrados, embora nenhum indivíduo pertencente à
casta druídica podia ser sacrificado. Os sacrifícios humanos estavam
estreitamente relacionados com a adivinhação.
Plínio o
Velho, autor e naturalista clássico, escreveu Naturalis Historia, um vasto
compêndio das ciências antigas distribuído em 37 livros em 77 d.C., recordava
que "terminados os preparativos necessários para o sacrifício e o banquete
sob a árvore (um carvalho), levam ali dois touros brancos".
Sabe-se,
além disso, que entre os conhecimentos transmitidos de forma oral e esotérica
pelos druidas estavam os relativos à magia, ao uso de ervas, cabelos e águas
medicinais e a determinação de dias fastos e nefastos, etc.
Este tipo
de conhecimento druídico, afirmavam alguns historiadores antigos, se relaciona
também com as rituais pitagóricos gregos.
De acordo
com estudiosos, a autoridade do druida estava muitas vezes acima da autoridade
do rei, com o qual os sacerdotes druidas desempenhavam um papel importante, a
primeira palavra era sempre a deles, e nas eleições, eram os druidas que
regulamentavam e orientavam.
Sacerdotes
druidas de maior prestígio podiam converter-se eles mesmos em reis. Sabe-se que
o druida Mog Ruith foi chamado pelos galos do Munster, ofereceram-lhe grandes
recompensas, mas Mog Ruith recusou a realeza.
O druida,
além de desempenhar normalmente as funções de juiz penal e de juiz legislador,
podia exercer também em muitas ocasiões o papel de árbitro de qualquer questão
política ou conflito interno que tivesse lugar dentro da comunidade, e
inclusive de mediador entre várias comunidades.
Em alguns
lugares chegaram a fundar centros de culto druídico de especial relevância,
como o santuário britânico de Anglesey, cuja destruição ocorreu no século I
d.C. pelo exército romano, descreveu Tácito.
Existem
notícias, embora muito escassas e confusas, a respeito da existência de
druidesas (ou druidas femininas).
Há dados,
por exemplo, de uma comunidade de sacerdotisas femininas que Pomponius Mela
localizou em Sena, à beira do Mar Britânico: conforme parece, estava formada
por nove sacerdotisas virgens especializadas em profetizar o futuro e realizar
curas mágicas, mas também em provocar tempestades e em transformar pessoas em
animais, acções deste tipo contribuíram para associarem as druidesas às bruxas.
É possível
que ecos destes cultos druídicos femininos sobrevivessem, por exemplo, nos
ritos realizados pelas monjas do monastério irlandês do Kildare, que mantinham
um fogo perpétuo em honra da Santa Brígida, Santa cristã, continuação de uma
antiga divindade indo-européia.
Os druidas
combateram com feroz resistência a dominação romana da Gália, mesmo com a união
de todas as tribos celtas, a vitória de Júlio César (52 a.C.) foi inevitável, e
segundo estudiosos, eliminou a civilização celta.
A cultura
e a religião druídica mantiveram quase plenamente sua vitalidade até que foram
progressivamente marginalizadas e perseguidas.
O
cristianismo fez todo o possível para erradicar qualquer tipo de culto
religioso pagão, apesar de esquecer de erradicar também a sua influência, especialmente
no terreno da religiosidade popular, pois muitas das crenças mágicas antigas
ainda sobrevivem, modificando apenas os seus nomes.
Além
disso, aceitou a continuidade da figura do antigo bardo ou poeta, que após, e
durante boa parte da Idade Média, seguiu sendo o depositário da memória oral e
do património poético dos povos de ascendência celta.
Facto é
que, a influência dos druidas deve ter sido considerável, pois três imperadores
romanos tentaram extinguí-los por decreto como classe sacerdotal num prazo de
50 anos - sem sucesso. O primeiro foi Augusto, que impediu os druidas de obter
a cidadania romana.
Em
seguida, Tibério baixou um decreto proibindo os druidas de exercerem suas
actividades e finalmente Cláudio, em 54 d.C., extinguiu a classe sacerdotal.
Certo mesmo é que, 300 anos mais tarde, os druidas ainda continuavam a ser
citados por autores como Ausonio, Amiano Marcelino e Cirilo de Alexandria, como
uma classe social e religiosa de extrema importância e respeitabilidade.
A partir
do século XVI vieram à luz diversas correntes de pensamento religioso que
tentaram restaurar as antigas crenças e ritos druídicos e opô-los à ortodoxia
cristã dominante. Estas seitas neo-druídicas têm um fundo ideológico apegado à
magia natural e ao culto panteísta à natureza, e conta com comunidades como a
Druid Order 'Ordem Druida', fundada em 1717, que se mantém viva até a
actualidade.
Outros
nomes deste tipo de seitas são os de Antiga Ordem dos Druidas, Confraternidade
Filosófica dos Druidas, Ordem Druida, Fraternidade dos Druidas, Bardos e Poetas
ou Igreja Celta Renovada.
Actualmente,
esses tipos de movimentos religiosos se acham em pleno processo de expansão,
devido à decepção de muitas pessoas diante das religiões tradicionais, à
tendência ao retorno a formas de pensamento e de mística naturalista, e ao
renovado auge do celtismo e de sua estética musical e cultural.
(Fonte:
internet. Autoria: Compilado e Traduzido por Luciana Bocchetti. Fontes :
Enciclopedia Universal Micronet - © Micronet 1998, Octubre 1998 SI 1988
Ilustrações ; The Druid. - Bill Worthington ; Salmer - Nick Beale, 1995 - James
Alexander, 1995; The Druidess. – LaRoche )
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