Simbolismo da Lua
Seja na linguagem corrente (sob a forma de aforismos), na astrologia (sob a
forma de atributos), no folclore, nas tradições populares ou nos sonhos, a Lua
possui um simbolismo muito rico no qual se encontram, em quase todas as
civilizações, os mesmos temas.
As manchas da Lua (que variam segundo os dias e as épocas) ocuparam o
pensamento dos poetas, dos filósofos, dos astrólogos e mesmo dos sacerdotes.
Todo o bestiário (com seu simbolismo próprio) foi identificado em suas manchas
e, por vezes, até mesmo o homem, sob a aparência de um velho canibal (entre os
tártaros) ou de uma menina (entre os iacutos). A projeção de problemas sobre as
manchas lunares faz desse estudo um verdadeiro teste de Rorschach da
humanidade. Para os povos antigos, nas tradições populares, a Lua não é um
astro morto mas, ao contrário, em plena mutação.
è sujeita a um
simbolismo muito variável, a Lua simboliza igualmente a morte. De fato, a cada
mês, durante três dias (na Lua nova) ela desaparece, para reaparecer
(ressuscitar) sob forma diferente. A Lua se torna, assim, o lugar de trânsito
dos mortos, a passagem obrigatória para uma nova vida. Na mitologia dos povos,
numerosas divindades são, não apenas lunares, mas igualmente funerárias e
ctonianas (isto é, subterrâneas e noturnas: ligadas à morte) como, por exemplo,
Perséfone, Mên etc.
è A Lua é também
o símbolo dos ritmos biológicos e, particularmente, do ritmo de 28 dias. Nós
discutimos os ritmos biológicos em relação à Lua num capítulo anterior.
è A Lua é,
igualmente, o símbolo (direto ou indireto) da fecundidade. Como símbolo da
fecundidade humana ela é estudada na parte consagrada ao controle concepcional
lunar; a Lua, como símbolo da fecundidade terrestre, é estudada na parte
destinada à astro-meteorologia lunar: as mudanças de Lua sempre anunciam chuva.
A Lua, como símbolo da fecundidade humana, transparece claramente nas
tradições dos povos do Norte (finlandeses, estonianos, iacutos) que celebram os
casamentos por ocasião da Lua cheia.
è Para os chineses, a festa da
Lua, festa da colheita, é uma das três grandes festas anuais. Lembremos que os
povos asiáticos concedem à Lua um lugar preponderante (ela fixa o calendário,
determina o signo astral etc...).
è Para os judeus,
a Lua simboliza o povo hebreu, sempre em busca de nova morada, mudando de lugar
perpetuamente. Para os judeus, como para os árabes (e numa certa medida para os
cristãos), a Lua é o regulador dos atos religiosos. As fases da Lua determinam
as datas de grandes festas religiosas.
Observemos, de passagem, que a data da festa da Páscoa, na religião
cristã, foi fixada, há alguns séculos apenas, em função de uma fase da Lua.
"O cálculo segundo o qual se determina atualmente a data da Páscoa é o
seguinte: `Páscoa é o domingo que se segue ao décimo quarto dia da Lua que atinge
esse tempo no dia 21 de março ou imediatamente após (...). A celebração no
décimo quarto dia da Lua do equinócio fora prescrita muito judiciosamente com o
objetivo de impedir qualquer assimilação da Páscoa judaica com a cerimônia
cristã'".
Assim, segundo as normas do cálculo eclesiástico atual, cujas tabelas
teriam sido elaboradas pelo astrônomo jesuíta Clavius, aconselhado pelo papa
Gregório XIII, a Páscoa pode ser celebrada em 35 datas diferentes, escalonadas
entre 21 de março e 26 de abril! (ver item 2 da Bibliografia).
Os calendários religiosos cristãos, árabes e judaicos não são os únicos
calendários que têm por base os ciclos lunares. Sabemos que a civilização
chinesa utilizava muito regularmente as fases da Lua para organizar as
cerimônias religiosas ou civis. Aliás, o povo celta, gente bastante misteriosa,
agia do mesmo modo.
è Símbolo do
tempo que passa, da fecundidade, dos ritmos do povo hebreu, a Lua é igualmente
o símbolo do imaginário, do sonho e do inconsciente. Essa assimilação simbólica
já é suficientemente conhecida (e nós a descreveremos no capítulo astrológico)
para que nos detenhamos nela.
Concluindo, pode-se afirmar que a Lua simboliza tudo o que está em mudança:
o tempo que passa, o sonho que foge, o animal ou o homem que se transformam, o
ciclo que muda e recomeça etc. Símbolo de desestabilização, a Lua é igualmente
o símbolo da esperança, pois anuncia que a cada fluxo segue-se um refluxo, que
a morte anuncia a vida e que a esperança é a primeira virtude humana. Jamais
uma frase terá tanto significado quanto a pronunciada pelos adoradores da Lua:
"A Lua está morta! Viva a Lua!"
Nota:Trecho do livro: "A Lua - sua influência sobre os homens e a
natureza", de Ilya Virgatchik.
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