Evangelhos Apócrifos
Narração do Dilúvio da Epopéia de Gilgamesk
(Relato Babilônico)
GILGAMESH fez uma longa e difícil
viagem para aprender de Utnapishtim como este veio a adquirir a vida eterna.
Como resposta às suas perguntas, Utnapishtim conta a seguinte estória. Houve um
tempo quando os deuses destruíram a antiga cidade de Shurupak mediante uma
grande inundação. Mas Utnapishitim, alertado por Ea (Enki), conseguiu
sobreviver construindo um grande barco. Sua imortalidade foi uma dádiva concedida
pelos deuses arrependidos em reconhecimento à sua ingenuidade e fidelidade ao
restituir o sacrifício.
Shurupak - uma cidade que tu conheces e
que está estabelecida à margem do Eufrates; era cidade antiga, (como eram) os
deuses que nela (habitavam), quando seus corações levaram os deuses a
provocarem uma grande inundação. Ali estavam Anu, Enlil seu pai valente, seus
conselheiros, N murta, seu arauto, Enuge, seu N. Ninigiku-Ea também esta ali
com eles; ele repete suas palavras para a choça de juncos (casa de
Utnapishitim): Choça de juncos, choça de juncos! Paredes! Paredes! Choça de
juncos, dai ouvidos! Paredes reflitam! Homem de Shurupak (Utnapishtim), filho
de Ubar-Tutu, Lágrimas descerão (sobre esta) casa, construa um barco! Abandone
suas posses, busque pela vida. Despreze a propriedade e mantenha a alma viva.
Entre no barco e tome consigo a semente de tudo que vive. O barco que tu deves
construir deve ter estas dimensões. Iguais devem ser a largura e o comprimento.
Como o Apsu (águas subterrâneas) tu deves lhe fazer um teto.
Eu compreendi e disse para Ea, meu
Senhor: Eis me, meu senhor, ao que tu ordenares, ficarei honrado em cumprir.
Contudo, o que eu devo dizer à cidade, ao povo e aos anciãos? Ea abriu sua boca
para falar, dizendo-me a mim seu servo: desse modo tu deverás dizer-lhes: eu
aprendi que Enlil é hostil para comigo, de maneira que eu não posso residir em
vossa cidade, nem pôr os meus pés no território de Enlil. Para as profundezas,
portanto, eu a mandarei, para crescer com meu senhor Ea. Quanto a vós
derramarei em abundância, os pássaros mais seletos, os peixes mais raros. A
terra ficará cheia de ricas colheitas. Aquele que ao anoitecer ordenar às
espigas, choverá sobre ele uma chuva de trigo (para iludir aos habitantes de
Shurupak quanto à real intenção da chuva). Com o primeiro raiar da aurora, a
terra se ajuntará ao meu redor.
[N. do T.: aqui o texto está muito
fragmentado para se traduzir]
Alguns devem levar betume, enquanto as
demais coisas que são necessárias forem trazidas. No quinto dia eu apresentarei
o madeiramento. Um acre (inteiro) era o seu pavimento, dez dúzias de cúbitos a
altura de cada uma de suas paredes, doze cúbitos cada mureta do convés. Acabei
de fazer cada um de seus lados e os juntei. Eu a fiz com seis pavimentos,
dividindo o barco em sete partes, seu pavimento plano eu dividi em nove partes.
Fiz a vedação. Fiz o mastro e preparei os suprimentos. Derramei oito medidas de
betume na fornalha, três de asfalto e também espalhei por dentro. Ao lado de
uma de óleo que a calafetação consumiu, e duas de óleo que o barqueiro
utilizou. Eu imolei dois bois para o povo, e uma ovelha a cada dia. Mosto,
vinho, óleo e vinagre eu ofereci aos trabalhadores para que bebessem,como
também água do rio, para que eles pudessem festejar o Ano Novo... no sétimo dia
o barco ficou pronto. O lançamento foi muito difícil, de maneira que eles
tinham que erguer a prancha para cima e para baixo, até que dois terços da
estrutura entrasse na água. Por causa de tudo que eu tinha carregado; por tudo
que eu tinha carregado de prata; por tudo que eu tinha carregado de ouro; por
tudo que eu tinha carregado de todos os seres vivos. Toda minha família e
parentes que eu mandei a bordo do barco. Os animais do campo, as criaturas
selvagens do campo, toda a tripulação que embarquei.
Shamash havia me estipulado um tempo:
quando ele ficasse inquieto à noite ordenaria que chovesse uma chuva de
destruição. Entre em teu barco e feche a porta! E ele declarou que o tempo
havia chegado: aquele que fica inquieto à noite ordenou que chovesse uma chuva
de destruição. E notei a aparência do tempo. O tempo era terrível de se
contemplar. Para fechar (todo) o barco, Puzur-Amurri, o barqueiro, teve minha
ajuda para juntar tudo que era necessário. Com o primeiro raiar da aurora, uma
nuvem negra ergueu-se no horizonte. Dentro dela os trovões de Adad (deus da
tempestade e da chuva), enquanto Shallat e Hanish (Arautos de Adad) iam
adiante, movendo-se como precursores sobre as colinas e o planalto. Erregal
(Nergal, o deus do mundo subterrâneo) faz o anúncio (fora da barragem);
Apresenta-se Ninurta e ordena que se abram os diques. Annunaki eleva as tochas,
colocando a terra em chamas com seus raios. A consternação de Adad chega aos
céus, tornando tudo que era luz em treva. A extensa terra foi destruída como um
vaso de barro (que cai)! Por um dia a tempestade devastou (a tudo), amontoando
rapidamente tudo o que devastou, submergindo as montanhas, sobrepujando as
pessoas como numa batalha. Ninguém podia ver seu companheiro, nem pode o povo
ser reconhecido desde o céu. Os deuses (que habitavam a cidade) estavam
assustados por causa do dilúvio, e, retiraram-se ascendendo ao céu de Anu. Os
deuses encolheram-se como cães que se agacham contra a parte baixa de um muro.
Ishtar gritava como uma mulher no trabalho (de parto), a senhora de voz suave
entre os deuses gemia em voz alta: ai, os dias passados voltaram para o barro,
por que me conduzi erroneamente na assembléia dos deuses, como eu pude me
conduzir desse modo na assembléia dos deuses, ordenando uma batalha para a
destruição de meu povo, quando fui eu mesma quem o fez nascer! Como as ovas dos
peixes eles enchem o mar! Os deuses de Anunaki choraram com ela, seus lábios se
cerraram... (ao ver a) todos. Seis dias e seis noites sopram aos ventos, da
inundação enquanto varre a terra. Quando chegou sétimo dia, a inundação (levou)
a tempestade e acalmou a batalha, que havia sido feita como (faz) um exército.
O mar se calou, a tempestade ficou imóvel, a inundação cessou. Eu observei o
tempo: a calmaria se estabeleceu, e toda a humanidade retornou ao barro. A
paisagem era tão plana como um telhado. Abri uma escotilha, e senti a luz sobre
meu rosto. Curvei-me lentamente, assentei-me e chorei, e as lágrimas desceram
pela minha face. Eu olhei ac redor para as linhas da costa no grande mar: em
cada uma das quatorze (regiões); lá emergia uma região (montanha).
O barco veio a se deter sobre o monte
Nisir. O monte sustentou firmemente o barco, não permitindo nenhum movimento.
[N. do T.: aqui há um trecho
indecifrável o1 perdido]
(Por seis dias o barco fico, firmemente
preso ao Monte Nisir.) Quando chegou o sétimo dia eu me apresentei e liberte
uma pomba. A pomba foi adi ante, mas voltou; não havia lugar para repousar por
isso ele voou ao redor e voltou. Então me apresentei e libertei uma andorinha.
A andorinha foi adi ante, mas retornou; não havia lugar para repousar por isso
ela voou ao redor e voltou.
Em seguida, me apresente e libertei um
corvo. O corvo foi adiante e vendo que as água haviam diminuído, ele comeu fez
círculos, grasnou, e não retornou. Eu deixei todos saírem para os quatro ventos
e ofereci um sacrifício. Fiz uma libação no topo do monte. Alinhei de sete em
sete vasos no devido lugar e amontoei cana, cedro e murta. Os deuses sentiram o
aroma, os deuses sentiram o doce aroma, os deuses se ajuntaram como aves sobre
o sacrificador. Assim que a grande deusa (Ishtar/Ninurti) se aproximou, ela
ergueu grandes jóias que Anu fabricou para seu punho; Sim, deuses presentes,
tão certo quanto este lápis-lazuli em meu pescoço eu não esquecerei, me
lembrarei destes dias, não (os) esquecendo jamais. Que os deuses se aproximem
do ofertante; (Contudo,) Enlil não se aproxime dele, por que ele, sem
moderação, trouxe o dilúvio e meu povo foi entregue à destruição.
Tão logo Enlil se aproximou, e viu o
barco, Enlil ficou furioso, ele ficou cheio de ira contra os deuses Igigi
(deuses celestiais): Alguma alma vivente escapou? Nenhum homem deveria escapar
à destruição!
Ninurta abriu sua boca para falar,
dizendo ao valente Enlil: quem outro, além de Ea, pode fazer planos? Ea sozinho
é quem sabe todas as questões? Ea abriu sua boca para falar, dizendo ao valente
Enlil: tu é o mais sábio dos deuses, tu herói, como pudestes tu, sem medida,
trazer o dilúvio? Sobre o pecador imponha seu pecado, sobre o transgressor
imponha sua transgressão!
Ao invés de trazer-lhes o dilúvio,
melhor seria que um leão se levantasse para diminuir a humanidade!
Ao invés de trazer-lhes o dilúvio,
melhor seria que um lobo se levantasse para diminuir a humanidade!
Ao invés de trazer-lhes o dilúvio, que
a peste se levantas-se para ferir a humanidade! Não fui eu quem descobriu o
segredo dos grandes deuses. Eu fiz com que Atrahasis (Extrema-mente Sábio, um
epíteto de Utnapishtim) tivesse um sonho, e ele percebeu (descobriu) o segredo
dos deuses.
Agora receba este conselho com relação
a ele! Imediatamente Enlil deixou o barco. Sustentando-me pela mão, me levou
para fora. Ele levou minha esposa para fora e a fez se prostrar ao meu lado.
Ficando de pé entre nós, tocou nossas frontes e nos abençoou: Até agora
Utnapishtim foi humano. Daqui em diante Utnapishtim e sua esposa serão como os
deuses. Utnapishtim habitará longe, na montanha dos rios! Assim ele me tomou e
me fez habitar muito longe, na montanha dos rios. Fim
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