Qual
a natureza dos Anjos?
Etimologicamente, a palavra anjo vem do Latim “ángelus”; do grego
“aggelos”; da palavra hebréia “alguém que vai” ou “enviado”, mensageiro; e é
usado em hebraico tanto para designar um mensageiro divino, como a um
mensageiro humano. Os anjos, em toda a Bíblia, aparecem representados como um
corpo de seres espirituais intermediários entre Deus e os homens. “Criastes o
homem pouco inferior ao anjos” (Sl 8, 6). Eles, como os homens são seres
criados por Deus. “Louvai, seus anjos todos, todas as suas hostes, louvai!
Louvem o nome de Yahweh... pois Ele ordenou e foram criados” (Sl 148,2.5; Cl 1,
16´17). Os anjos são servidores e mensageiros de Deus, como diz o salmista:
“poderosos executores da sua palavra, obedientes ao som da sua palavra” (Sl
103,20). Jesus disse que os anjos dos pequeninos contemplam “constantemente a
face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18,10), e a Igreja viu aí uma alusão ao
Anjo da Guarda, guardião do corpo e da alma dos homens, cuja Festa celebra
liturgicamente no dia 2 de outubro, desde o século XVI, universalizada pelo
papa Paulo V, depois que Leão X, em 1508, aprovou o ofício composto por João
Colombi. Os anjos são criaturas puramente espirituais, dotadas de inteligência
e de vontade; são criaturas pessoais e imortais (cf. Lc 20,36). Eles superam em
perfeição todas as criaturas visíveis, como dá testemunho o fulgor de sua
glória (cf. Dan 10,9´12). O Papa Pio XII, na Encíclica Humani Generis, de
12.08.1950, deixa claro que os anjos são seres pessoais. A mesma afirmação fez
o papa Paulo VI na sua Profissão de Fé, no Credo do Povo de Deus, em
30.06.1968. Quem na Igreja mais aprofundou o estudo da natureza dos anjos, foi
sem dúvida, São Tomás de Aquino (1225´1274), doutor da Igreja. Até hoje os seus
ensinamentos são como que o ponto de referência para a teologia católica. São
nos seus ensinamentos que queremos nos basear para estes escritos. Nos
discursos aos participantes do VI Congresso Internacional Tomista, em setembro
de 1965, o Papa Paulo VI fez as seguintes afirmações: “A filosofia de Santo
Tomás não é nem medieval nem própria de alguma nação particular, mas
transcende o tempo e o espaço e conserva todo seu valor para todos os homens
de hoje”. “O tomismo longe de ser um sistema esterilmente fechado sobre si
mesmo, é capaz de aplicar com sucesso seus princípios, seus métodos e seu
espírito às tarefas novas que a problemática do nosso tempo propõem à reflexão
dos pensadores cristãos”. Em 8 de outubro de 1965, Paulo VI declarava: “O
magistério da Igreja Católica apresenta o sistema tomista como uma norma
segura para o ensino das ciências sagradas” (Doc. Cathol. 1965). Na Carta
Apostólica Lumen Eclesiae , por ocasião do 79º centenário da morte de Santo
Tomás de Aquino, em 20 de novembro de 1974, Paulo VI reiterou o valor do
tomismo afirmando entre outras coisas: “Santo Tomás é o guia autorizado e
insubstituível dos estudos filosóficos e teológicos”. “Também na atualidade, o
Angélico e o estudo de sua doutrina, constituem a base da formação teológica
daqueles que são chamados à missão de confirmar e robustecer dignamente a seus
irmãos na fé”. “Leão XIII não só propôs Santo Tomás como mestre e guia, mas o
proclamou como patrono de todas as escolas católicas de qualquer natureza e
grau, título que nos cabe confirmar”. Muitas coisas São Tomás deixou escritas
sobre os anjos. Também Santo Agostinho e outros santos doutores. Santo
Agostinho afirmou que: “Só conheceremos a natureza dos anjos de modo
perfeitamente claro, quando estivermos para sempre unidos a eles na posse da
bem´aventurança eterna” (Enchiridion, cap. 58). São Tomás nos ensina algumas
coisas sobre a natureza dos anjos: “Os anjos sendo substâncias puramente
simples, são como que formas que não são limitadas e determinadas por qualquer
matéria, mas possuem, pela sua única natureza específica, todas as suas
determinações substanciais” (De Unitate Intelectus). Para S. Tomás, a criação
dos anjos, os seres que mais se assemelham a Deus (puros espíritos), é
necessária para a perfeição do universo. Os anjos possuem o intelecto superior
ao dos homens, que neste caso depende dos sentidos. Para o anjo não, o
intelecto puro pode compreender as realidades sem a necessidade dos sentidos.
Em outras palavras, o anjo pode intuir, conhecer, sem precisar raciocinar.
Sobre essa maneira de conhecer as realidades, São Tomás ensina que: “O
intelecto angélico é um verdadeiro quadro pintado ou melhor ainda, um espelho
vivo que o anjo precisa apenas contemplar para conhecer as coisas naturais
deste mundo.” (De Veritate, questão 8, e 9) São Tomás ensina, na questão LXI da
Suma Teológica, que:
1 ´ Os anjos não são a causa da sua própria existência; foram criados (Art.1)
2 ´ O anjo não foi criado desde toda a eternidade (Art. 2)
3 ´ Os anjos foram criados simultaneamente com a natureza corpórea (Art.
3)
“Os anjos fazem parte da Criação como um todo, não constituindo um
universo à parte, mas concorrendo conjuntamente com a natureza corpórea para a
constituição do próprio universo criado. De fato, a ordem das coisas entre si
visa a Glória de Deus, e, secundariamente o bem e a perfeição relativa do
Universo. Ora, nenhuma parte é perfeita separada do todo. Logo, não é provável
que Deus, cujas obras são perfeitas, como diz a Escritura, tivesse criado a
criatura angélica separadamente, antes das outras criaturas.” (Art. 3) Os
Concílios de Latrão IV e Vaticano I afirmaram que: “Deus com sua virtude
onipotente, no início dos tempos, simultânea e igualmente criou uma e outra
criatura, a espiritual e a corporal, isto é, a angélica e a material e depois a
humana; esta, composta de espírito e de corpo.” Os anjos, por seu intelecto
muito mais perfeito do que o nosso, podem prever certos acontecimentos futuros
que dependem de leis físicas, que eles conhecem; é o que ensina S. Tomás .
Podem mesmo prever acontecimentos que dependem de leis naturais, como os
fenômenos meteorológicos, mortes, destruições de cidades, fome, epidemias, etc.
Isto não quer dizer que o anjo seja onisciente (sabe tudo); é apenas fruto do
entendimento mais penetrante que ele tem das coisas; mas não pode prever um
acontecimento imprevisível. Eles só podem conhecer os fatos futuros, desde que
as causas que o determinam existam e não possam ser impedidas por outras, ou
provocadas por ações de vontades livres. São Tomás afirma que só por uma
revelação especial de Deus os anjos podem conhecer o futuro que dependa de uma
vontade livre ou de uma causa fortuita (causa que não depende de leis
naturais). O anjo não sabe o que está no pensamento do homem, nem em sua
vontade, a menos que o homem o manifeste por seus efeitos ou sinais externos,
porque o entendimento e a vontade não dependem dos sentidos e da imaginação.
(Art. IV) Sobre a vontade dos anjos, São Tomás ensina, na Questão LIX da Suma
Teológica, que:
1 ´ É necessário admitir que nos anjos existe vontade; (Art. 1)
2 ´ A vontade dos anjos é uma faculdade ou potência operativa distinta de
sua própria natureza e do seu entendimento;(Art. 2)
3 ´ Nos anjos há livre arbítrio; (Art. 3)
4 ´ Nos anjos existe apenas o apetite intelectivo ou vontade. (Art. 4)
Segundo São Basílio Magno, doutor da Igreja:
“Os anjos não foram criados como crianças imperfeitas, que aos poucos
foram se aperfeiçoando pelo exercício, de tal forma que se fizeram dignos e
receber o Espírito Santo. Ao contrário, desde o primeiro instante de sua
existência, juntamente e em conjunto com a sua substância, receberam a
santidade, isto é, a Graça Santificante (In Psalm., homilia 32,4). Santo
Agostinho diz que: “Deus criou os anjos dando´lhes a natureza e infundindo´lhes
ao mesmo tempo a Graça” (A Cidade de Deus; lv.XII, 9,9) São Tomás, sobre a
perfeição dos anjos, ensina na Questão LXII da sua Suma Teológica, que:
1 ´ “Nem o homem nem o anjo foram criados na posse da bem´aventurança
(visão beatífica de Deus) sobrenatural” (Art. I).
2 ´ “Os anjos necessitaram da Graça para se “converterem” a Deus (e
possuírem definitivamente a Deus) (Art. II).
3 ´ “Para alcançarem a Glória, os anjos necessitaram da Graça.” (Art.
III)
4´ “O anjo, antes de ser bem´aventurado, isto é, antes de alcançar a
Glória, a visão de Deus, possuiu a Graça, em virtude da qual, veio a possuir a
bem´aventurança.” (Art. IV)
5 ´ “O anjo, tão logo realizou o primeiro ato de caridade (amor a Deus),
mereceu a bem´aventurança e tornou´se imediatamente bem´aventurado”. (Art. V)
6 ´ “É razoável supor´se que os anjos receberam os dons da Graça e a
perfeição da bem´aventurança, de acordo com o grau de sua perfeição natural”.
(Art.VI )
7 ´“Nos anjos bem´aventurados, permanece o conhecimento e o amor natural.
(Art. VII)
8 ´ “Os anjos bem´aventurados não podem pecar” (Art. VIII)
9 ´ “Os anjos bem´aventurados não podem aumentar o merecimento nem
progredir, quando já na bem´aventurança.” (Art.IX)
Com relação ao lugar onde o anjo se encontra, São Tomás ensina, na
Questão III da Suma Teológica, o seguinte:
1 ´ “Os anjos não estão em um lugar, tal como os corpos, isto é, de uma
maneira própria e circunscritiva, mas de uma maneira que transcende o lugar.”
(Art. I)
2 ´ “Diz´se que o anjo está em um lugar, apenas em sentido figurativo e
impróprio ... (Art. II)
3 ´ “Os anjos não estão contidos em um lugar corpóreo”. (Art. III)
3 ´ “Os anjos não estão contidos em um lugar corpóreo”. (Art. III)
4 ´ “Como o anjo transcende ao lugar propriamente dito, devido à sua
imaterialidade, quando não está nele aplicando seu poder operativo, não se acha
de maneira nenhuma nesse lugar”. (Art. IV)
5 ´ “Como o anjo está num lugar pela aplicação de sua virtude operativa
naquele lugar, segue´se que não está em todos os lugares, mas apenas em um
lugar, seja este divisível ou indivisível, maior ou menor, conforme o anjo
voluntariamente aplique sua virtude a um corpo grande ou pequeno. Desse modo,
todo o corpo a que o anjo se une por sua virtude operativa, ocupa em relação a
ele, um só lugar. “ (Art. V) Sobre a atuação dos anjos em nossas vidas, disse o
papa Bento XV: “Os anjos bons puderam fazer isso com suas forças naturais, mas
eles não se intrometem nas coisas humanas e visíveis fora da ordem da natureza,
a não ser que sejam enviados especialmente por Deus, e por isso, as coisas que
fazem fora da ordem das coisas sensíveis são milagres, e sempre foram tidas por
milagres, porque é Deus quem as faz por ministério dos anjos.” (De Servorum Dei
Beatificatione 1.IV)
Do livro OS
ANJOS do prof. Felipe de Aquino
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